
Sabia que o dia não ía ser muito alegre pois estava sozinha em casa, peguei no telemóvel para confirmar as horas pois o relógio podia não estar certo, mas não confirmava-se eram 8h e 15minutos! Levanto-me da cama e arrasto-me até à sala arredo as cortinas da janela da varanda e olho lá para fora... senti-me ainda mais triste, o céu estava cinzento e a chuva caía, a praia estava deserta, apenas se via dois ou três corpos no meio do mar agarrados às suas pranchas, o que não era de estranhar visto que as ondas estavam fantásticas para os amantes do surf!
Fui até à cozinha e preparei um copo de leite fresco com chocolate, apesar da chuva estava calor! Apercebi-me de que a minha mãe me tinha deixado um recado na porta do frigorífico, o que era típico quando ela saía cedo, era um recado que dizia o mesmo de sempre “Bom dia filhota, toma o pequeno almoço como deve ser e já sabes que a mãe deixou o almoço no forno é só aquecer! Depois ao almoço a mãe liga! Beijinhos porta-te bem e qualquer coisa manda mensagem! “ depois de ler isto fui de novo para a sala, ligo a televisão e como não poderia deixar de ser em mais um dia de férias estava a dar bonecos! Não estava com cabeça para estar a ver bonecos, sentia um vazio dentro, sentia que uma parte de mim tinha-me sido retirada mas não entendia o porquê... Estava de pijama e não tinha grande vontade para me ir meter debaixo do chuveiro e tomar banho até porque quase de certeza que não ía sair de casa! Resolvi então vestir uns calções e a minha camisola preferida que me tinham trazido de uma viagem de finalistas, adorava aquela camisola apesar de saber que existiam no mínino mais umas largas centenas delas a dizerem o mesmo “ I ♥ Paris” peguei no bloco de folhas que estava na minha secretária e fui para a sala, liguei o mp3 e começei a fazer uns riscos numa folha, tinha a alma envolta num sentimento de melancolia e tédio, sabia que possivelmente alguém me iría mandar uma mensagem a dizer “vamos lanchar todos logo à tarde? :) ” era algo comum em dias de chuva mas hoje não me apetecia sair, sentia-me só mas também sentia que precisava daquele momento a sós para pensar em muitas coisas! Continuei a fazer riscos até que subitamente arranquei a folha e começei a escrever um texto, mais um texto... O relógio marcava 13horas quando fui almoçar!
2h 30minutos ouço o telemóvel vibrar e aí estava a habitual mensagem dos dias de chuva “ Vamos lanchar todos logo à tarde? :) ” não me sentia com grande vontade pelo que respondi “Desculpa mas hoje não me dá jeito, a minha mãe pediu-me para dar um jeito na casa, vão vocês e comam também por mim!”. Sabia que não estava a ser sensata ao mentir mas também sabia que se tivesse dito que não porque estava mal teria sido vítima de um longo interrogatório ao qual não me estava a apetecer responder!
Peguei numa revista e começei a ler, rapidamente percebi que era uma revista cor-de-rosa onde vinham uma série de notícias fúteis e desinteressantes e de imediato a pousei no monte das revistas! Perguntava-me o que se passava como é que nada me agradava naquele dia! Subitamente olhei para o armário castanho com as portas de vidro onde se viam uma série de álbuns de fotografias, abri as portas e tirei os álbuns, sentei-me no chão e começei a virar página a página e ao fim de algumas páginas as lágrimas começaram a descer pela minha face, como se fossem as gotas de água que desciam pelos vidros das janelas da varanda... Eram fotos de criança, fotos de festas de aniversário, fotos da escola primária, fotos de que já nem eu me lembrava...
Foi então que percebi porque é que me estava a sentir com um vazio enorme dentro de mim, porque naquele dia, naquele momento, aquela hora eu tinha 15 anos e percebi que já nada era vivido com intensidade, percebi que a minha vida apesar de tudo era uma vida monótona! Percebi que a parte que tinham tirado de mim foi a parte que à 10 anos fazia-me sentir feliz e fazia-me sentir que tinha vida, percebi que estava a deixar morrer aos poucos a criança que todos nós devemos conservar para sempre dentro de nós!
Porque apesar de tudo, o facto de os anos passarem não quer dizer que nós tenhamos de deixar morrer a criança que existe dentro de nós!
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